O sonho de uma flor
Ali, debaixo do viaduto,
aquela moça se misturava aos entulhos
que se juntavam dia após dia;
um golpe do destino furtou-lhe o sorriso
e, desnorteada, nem sabe ao certo como fora parar ali.
O sonho de uma flor se recolheu aos escombros,
escondendo uma realidade que se distorce a cada instante
e se faz mais entorpecida a cada gole de conhaque;
suas horas se perdem numa imensidão vazia
e cada dia parece torturar-lhe a alma,
sugerindo a morte como necessária fuga;
mas no fundo,
ela reconhece tamanho engano.
Sem forças para reagir,
ela apenas observa o desfazer dos restos que a incorpora;
nessa perdição,
nem teve tempo de notar a flor que despontava no asfalto
a procura de fôlego.
Logo ali, no seu canto,
uma vida brotava intensa e contrastante
convidando-lhe para um sonho!
E quem sabe se em algum momento
ela não irá se entregar ao sonho de uma flor?
E plantar um jardim debaixo do viaduto,
bem na fachada de sua humilde morada.
A força da vida pulsa em seu olhar
num instante em que extasiada,
ela observa a flor
como se olhasse para o espelho de um tempo que ficou escondido num canto qualquer de sua memória.