a pipa

a descoberta do eterno aconteceu assim, de lampejo;

no rebolar desproposital da pipa

nadando nas nuances do azul

bailando e doendo no vento que vai sem volta ou volta sem ir

que senti secar-me os olhos arenosos de luz e sono.

foi-se lá como num instante,

naquela eira sem beira

na topada do caminho invisível da pipa

contorcia-se, retorcia-se, a coitada.

lampejou na mente vaga o sabor da nostalgia ou quiçá o torpor d'um nirvana

preenchendo de significados as piscadelas das pestanas

da experiência inconsciente daquele que meio dorme e meio pensa [...]

veio-lhe a eternidade nos poros

adentrando-lhe os cansaços invisíveis

arrebatou-lhe o peito quieto, doeu

num domínio de corpo imóvel, ali ficou

haveria espaço p'raquela saudade se a nostalgia nostalgia fosse

mas do anular dos sentidos também frutifica a alegria desalegre do não ser

restou aquele quê de quem sabe o quê que só o eterno tem

e num observar de pipa que já não voava no céu

entardeceu.

anoiteceu.

ê, se perdeu.

Zéfiro Alves
Enviado por Zéfiro Alves em 06/12/2016
Código do texto: T5845735
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