a pipa
a descoberta do eterno aconteceu assim, de lampejo;
no rebolar desproposital da pipa
nadando nas nuances do azul
bailando e doendo no vento que vai sem volta ou volta sem ir
que senti secar-me os olhos arenosos de luz e sono.
foi-se lá como num instante,
naquela eira sem beira
na topada do caminho invisível da pipa
contorcia-se, retorcia-se, a coitada.
lampejou na mente vaga o sabor da nostalgia ou quiçá o torpor d'um nirvana
preenchendo de significados as piscadelas das pestanas
da experiência inconsciente daquele que meio dorme e meio pensa [...]
veio-lhe a eternidade nos poros
adentrando-lhe os cansaços invisíveis
arrebatou-lhe o peito quieto, doeu
num domínio de corpo imóvel, ali ficou
haveria espaço p'raquela saudade se a nostalgia nostalgia fosse
mas do anular dos sentidos também frutifica a alegria desalegre do não ser
restou aquele quê de quem sabe o quê que só o eterno tem
e num observar de pipa que já não voava no céu
entardeceu.
anoiteceu.
ê, se perdeu.