EM NÓS MESMOS

Estamos em nós mesmos, mas não conseguimos nos aprender,

É que duas partes de um “eu” conflitam, o racionar e o desejar,

No fim só queremos que tudo acabe bem,

Que as escolhas consigam se reinventar nos contratempos,

Mas, melhor que isso, sentir que escolheu o certo para não lamentar o que se abriu a mão.

Estamos em nós mesmos, nossa tormenta e nossa paz,

Onde a solidão se faz necessária e o lobo aprende a viver,

E os loucos se entregam em suas loucuras,

Onde a guerra se faz em procura da paz,

E a pele caça outro calor.

Estamos em nós mesmos, criamos essa casa de aparências,

Para defender o menino dos dias maus com um sorriso forçado,

Onde os olhos suplicam por um pouco mais de compaixão,

E o coração que um dia se envenenou por um sonho,

Luta com medo para se revelar como um sol ao amanhecer.

Estamos em nós mesmos, tentando lidar com a solidão,

Conduzindo os passos a tentar mais uma vez,

É que as fechas que às vezes lançamos são sopradas com o vento,

E voltam em nossa direção, cortando a pela como uma faca desliza sobre a manteiga,

E é à noite onde o pranto seca e faltam palavras, que a mente suplica em oração.

Estamos em nós mesmos, desejando encontrar o abraço que parece um escudo deste mal,

O sorriso que faz esquecer as dores líquidas,

Onde o carinho entende sem julgar,

E o olhar de um seja portão aberto e o outro não hesite em entrar,

Estamos em nós mesmos, esperando por um mergulho profundo onde a alma se compartilha.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 05/12/2016
Código do texto: T5844703
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