ARMAGEDDON

Quando Deus dormiu o homem acordou...

E saiu ao mundo que anterior a ele era

sem entender um só movimento dessa preciosa esfera,

a procurar as pedras que fariam fogo,

a caçar sistemas para montar seu jogo,

a desenhar na pele da ilusão o mapa do logro,

a fluir sua consciência dentro do cosmos ovo...

Eis que estamos no limiar da nova aventura,

a procurar estrelas habitáveis dentro da matéria escura,

a deixar um rastro de dor precisa e cirúrgica,

cantos secos e doloridos nos ouvidos da música...

Eis que somos os homo-sapiens sapientes,

singramos os mares da loucura e nos tornamos dementes,

descobrimos o fogo para que outros sentissem como ele é quente,

revelamos a cura parcimoniosa para que outros se sentissem doentes...

Quando Deus acordou o homem havia dormido

seus ratos mutilados nos laboratórios cheios de vidro,

infestado a Via Láctea com seu monóxido de carbono,

posto para dormir os inteligentes que haviam escapado do sono...

Hoje, ambos sentados na mesa de negociações,

de um lado pulsa Deus seu quasar de força máxima,

do outro o homem com a ciência que não evolui corações,

a espécie, à espera do Armageddon de proporções trágicas...

Eu, pudico poeta em andrajos mentais reduzido a versos mínimos,

que rompo a rir com os palhaços que nada esperam das lágrimas,

saio na floresta do alheamento a sacudir os braços e a tocar os sinos

avisando que estarão fora do Paraíso os credos e filosofias anátemas...