Gosto do Branco
O branco eu trouxe de casa
e o azul, de tanto céu passado.
um céu de nuvens claras
tocado pela ternura de vê-las passar.
As tempestades vim conhecendo pela vida,
e as pedras se gastando pelo arrastar das águas,
debaixo de um sol Latino
sob estrelas, sem o mar.
Hoje sou o que ainda vai nascer,
o que precisa nascer urgentemente
para não sucumbir a tanta morte.
Minhas terras, se é que as tenho
foram traídas por homens/deuses
conscientes sabedores do nosso destino.
Passo e não dou confiança
Sei bem o que existe, que é forte,
e o que não existe, que é ainda maior.
o imediatismo aponta os carros passando na rua,
O lavrador olha sua enxada crua
o operário suas ferramentas
mãos e máquinas (que não são suas)
o estudante desinteressado escreve alguma coisa!
muitos ainda não desconfiam.
Alguém nos vigia de cima,
e debaixo e aos lados
e à roda algo nos cerca, espreita.
Nos esmagam em suas engrenagens
dentro mesmo das nossas entranhas
criam-nos ferrugem no sangue
cimento e máquinas
crimes e mágoas
nosso amor e desenganos
nosso ser ferido e violentado
perdido em meio a tantos rumos.
Viçosa, 17/03/1977
(militância estudantil)