O POETA MODERNO

A poesia moderna

põe um olho na cisterna

e vê homens pendurados na corda de dinheiro,

sabe que a salvação está longe deste humilde chão,

nem Deus desce ao campo de batalha de fonemas e vãs palavras,

a poesia moderna estende sobre o abismo o varal da salvação...

O poeta moderno veste seu terno

feito da pele de si mesmo,

sai nu a andar de Norte a Sul

procurando o que há dentro do umbu,

cavouca à procura das leis mais loucas,

aquelas que liberta o homem do verbo que oprime,

mãos calosas a fazerem esteiras de vime...

O poeta moderno

ri com os poemas no caderno

da criança

que ainda crê haver um mundo hodierno

mais justo com pessoas e bichos

que ainda moram em ocas

ou em latas de lixo...

O poeta moderno não é Jesus

nem Hitler

menos ainda Judas

nem de perto

Gandhi

nem Gaudí

nem um pererê-saci:

O poeta moderno

é tão fugaz

quanto o conceito de eterno...