CÂNTICO DOS MISERÁVEIS

CÂNTICO DOS MISERÁVEIS

São brancos, pardos e pretos

em andrajos nauseabundos

por becos, cantos e guetos

sujos de tempo, terras e barros

miseráveis vagabundos

na desdita do degredo

malditos e infectos escarros

desgraçadas mãos que mendigam

vida de fome e medo

saga sem destino

tudo que vai em saco é um segredo

inclemência dos dias de chuva

e de miséria tão à pino

sob o lixo que amontoam

Não voam

nem criam Raízes

se aninham em brechas

sob viadutos

sob ponte

um nicho que não lhes conte

que são infelizes

do não ter

do não ser

do escarnio do tempo

do capricho do vento

da mão que se estende

fingindo caridade

do lixo que lhe supre

com muito mais dignidade