DE OLHOS ABERTOS

Pergunto à minha sombra

porque se esconde atrás de mim - talvez medo do sol

e a trago nos dias ensolarados para passear na alameda

onde os poetas antigos escolheram os melhores versos

aqueles que apodrecem para que nasçam novas palavras...

Em dias de chuva

pergunto à melancolia onde devo por as poesias

que se sucedem como filhas de larvas nas altas árvores

e escuto - vindo do alto da cumeeira

o barulho do tordo a fazer seu ninho

onde sua amada põe ovos sem olhos

para pássaros que nascerão de olhos abertos...

Em silêncio passo pela ampulheta o vagar do tempo

cada grão cumprimenta seu semelhante

diante da gravidade pousam fótons

olho no quadro o Einstein que me olha

me levanto e caminho na Via Láctea

com meus pés cansados de caminhos portugueses...