DIAS DE CHUVA E DE SOL

Ainda que eu tenha tido todas as chaves

não sei o porque de tantos cadeados

que eu tenha tido tantos sonhos

não sei o porque de tenebrosos pesadelos

que tenha escrituras de tantas poesias

não concebo possuir montanhas de palavras solitárias...

Ainda que eu tenha rido com tantos palhaços

esse gosto amargo de choro ainda vaga no céu da minha boca

essa força estranha que me faz achar a saída do labirinto

também guarda o torpor que me faz letárgico a tantos movimentos

que eu escute essa canção que parece que vem do céu

não apaga esse silvo agudo que atravessa a floresta do sentidos...

Ainda que eu respire fundo e procure forças na imaginação

sinto essa ferrugem que anda dentro das conquistas

por mais que aprecie acreditar em fadas e duendes e bruxas

o aço da escada e o ferro das torres me embaçam a visão

quis muito e pude sentir o prazer da entrega sem me oferecer

mas os quilos de música empilhada roubam-me a vontade...

Ainda que eu rasgue o céu e encontre lá a mais antiga filosofia

vejo bibliotecas com seus livros amarelos e que nem falam mais

poetas com potes de ouro me procuram para conversar

e eu só tenho algumas palavras que escaparam da escuridão

quando aprendi a falar de amor me deu vontade de rir e chorar

e hoje olho o castelo abandonado e na torre mais alta mora a poesia...