Um Longo Processo...
A quem será que pertence
Esses dois olhos
Refletindo uma imagem no espelho
Infinitamente?
Não vejo mais um ser
Vejo só as angustias deste
Seus medos, seus defeitos
Os erros que cometera
Quando ainda nem sabia
O que era um erro
Agora que saira do casulo
Viu que o céu não é mais igual
O eu que um dia antes criou
Não funciona mais
Perdera-se no caos
De muitos outros eus
Ninguém se descobre
Inventa-se
Copia-se
Em um mundo desigual
Não tem como ser uma simples cópia
E nem original
Sou seletivo
Pego de quem mais gosto
As vezes, também procuro
Nas memórias
Pego o que ainda presta
Daquele que deixei para trás
- ou seria daquele que me abandonou? -
Se eu conseguisse somente ser
Não desse ouvidos as vozes da mente
A vida poderia, talvez, perder este peso
Meus movimentos ficariam menos densos
Mas já desisti de tal possibilidade
O medo da solidão corrompe o ser
Ninguém quer ser chato
Nem quer ser banal
O conhecer é só fonte
De entreter os outros
Quando falta em ti
Um entretenimento próprio
Tantas opiniões
Tantas discórdias
Tantos dizeres
Palavras vazias soltas ao vento
O ouvido dá sentido demais as coisas
Além daquele que as coisas não tem
A vida é nada mais que ficção
Tem propósito algum
Tentamos o tempo todo
Achar um fim para as coisas
E assim inventamos
Nossos próprios eus
Só não sei quando
Terminarei o meu.