DESESPERANÇA

Vá! Levanta, Zé!
Tá com medo de quê?
Do teu grito,
Do teu espanto?
Quem te disse
Que não derramarias prantos?
Corre atrás do café,
Da água pra pagar.
Do aluguel, Zé.
Já é fim de mês,
Tem escola pra acertar.
Zé ainda sorri
Quando a mulher lhe diz
Que estar esperando
Mais um bebê.
Zé operário, acorda cedo,
Na rotina do seu desespero,
Tenta todos os dias,
O ano inteiro,
A vida inteira tentando.
Não desiste Zé...
Quem sabe o teu caminho
Será este, eterno tentador.
Mas o amor também brotou em Zé,
No final do dia, depois da cerveja,
Ele compra fiado uma flor
Pra dar para sua mulher.
É aí quando Zé esquece o dia
E faz juras de amante.
Mal adormece, já levanta,
Mesmo antes de raiar o dia.
Lá vai Zé refeito
Tentar de novo.
Vá! Zé...
Leve contigo
A certeza de que já tentou.