... desmanchou-se em mil negrumes!
Findou-se o tempo em que me dei certezas.
Findou-se o tempo em que inventei meus numes.
Foram-se os fins, os fatos, a Verdade...
O mundo desmanchou-se em mil negrumes!
Vi que a existência não possui sentido,
Que o fundamento é mal fundamentado;
Vi que a razão não passa de um delírio...
Não vejo mais motivos para o fado!
A ontologia fez-se toda em cacos,
Fez-se em mentira o “verdadeiro mundo”.
Tudo, por fim, findou-se no vazio:
Quedou-se o todo em poço mui profundo!
Depois da náusea de um primeiro instante,
Depois da angústia que lacera o peito,
Vi que também motivos eu não tinha
Para chorar delírio já desfeito.
Eu, vendo abismos deglutindo abismos,
Vi que não mais o nada incomodava.
Lancei-me, assim, nos braços da Mãe Terra:
Eu disse sim p’ra vida, que eu negava!
A ontologia fez-se toda em cacos,
Fez-se em mentira o “verdadeiro mundo”.
Tudo, por fim, findou-se no vazio:
Quedou-se o todo em poço mui profundo!
Nas trevas ocas do devir que sou,
Na afirmação da vida como dada,
Agora afeito às coisas (vãs) do mundo,
Eu encarno, sorrindo, a presença do nada!