Silêncio na tempestade
Amanheceu relampejando
de maneira que eu
Há muito não via
Mas eu sei que a Natureza
Invariavelmente anda correta
Então
Sobre as coisas erradas
que eu vejo
Me abstenho e pouco falo
Estou neste mundo
Pra aprender com paciência
Um pouco do culto ao silêncio
Sobre muita coisa que sei
Me abstenho
Nesta curta existência
Não vim a este mundo
Pra fazer inimigos
E nem pra corrigir meus irmãos
Antes que eu nascesse
Deus já me avisou
de antemão
Que era castigo
Então
Quando tão perto de mim
A multidão pisa em flores
E o mundo vai se transformando
Nesse circo de horrores
Me calo
Preciso simular indiferença
Fazer de conta que nem ligo
A vida continua
E o mundo dá voltas
Existem leis perfeitas
E dentro dessas leis
Está escrito
Que o simples poeta
Tem a meta
de não semear discórdias
Muito menos se enxergar
Com o direito à uma revolta
É preciso aprender
Que quando o dia amanhece
Trovejando e relampagueando
Basta observar a lição
Que a natureza oferece
O Tempo, invariavelmente
Nos conduz à razão
Então
Vou à janela
Penso
Absorvo essa bela lição
Cresço
e, diante da voz suave
do trovão
Permaneço, perenemente
Em silêncio.
Edson Ricardo Paiva