HERÓIS

Heróis?

Tenho tantos...

Uns mortos,

outros, aos prantos,

olham a face do país, enrugada,

não creem que lutaram por isso,

por políticos que transformaram o país num lixo,

que derramaram sangue por uma manhã manchada

pelo sol da violência e pela lua da mais sórdida palavra;

alguns ficaram loucos, devagar, aos poucos,

sonharam sonhos excepcionais,

sonharam libertar os animais,

hoje olham pelas grades dos zoológicos

e lá estão os orangotangos semióticos,

os pavões que se ausentaram do fogo na rua,

lá estão as almas desoladas, a minha, as nossas, a sua...

Quando os visito em seus túmulos abandonados,

cheios de musgo e ervas daninhas

sinto suas mortes como a minha,

recito uma ou duas poesias,

limpo as lápides e lá estão

as frases que sonhei, um dia,

estarem escritas nas paredes,

nos muros, ditas em festas,

eis aqui os poetas verdadeiros,

os verdadeiros poetas,

os últimos, os primeiros...