Do Vale à Montanha

 

Meu ego é a cidade

Meu espírito a montanha,

No vale a insanidade

No alto uma paz tamanha

 

Meu ego quero entender

E assim ter o comando,

Impulsos quero reter

E não cair no desmando

 

Suas ruas todas percorro

Tentando encontrar seu segredo;

Acima vislumbro o morro

Mas não me livro do enredo

 

Parece que estar aqui                           

Na teia desta cidade

É pouco do que já vi

Da plena felicidade

 

Mas como ir à montanha

Se preso estou neste vale?

Preciso entender a manha

Mesmo que o ego se cale

 

Pois ele ama, sofre e odeia;

Pensa, discute e esperneia,

Mas não me mostra o caminho

que leva do vale à aldeia.

 

Não posso virar-lhe as costas

E o morro tentar subir

Pois não terei as respostas

E ao vale irei recair.

 

Preciso encará-lo de frente

Mas sempre olhando de fora;

Assim, embora descrente,

No espírito a visão se ancora.

 

Agora noto a mudança

Na minha percepção;

Surge então a esperança

De me livrar do grilhão

 

Eu que me achava feito

Do DNA da cidade

Agora me sei eleito

Pra conhecer a Verdade

 

Meu ego é a cidade

Meu espírito a montanha;

Como é doce a liberdade

Se a visão altura ganha!

 

Não deixo de ser o vale

Que do alto aprendi vigiar;

E mesmo que o instinto fale,

Da Essência a visão se vale

Para o ego comandar.