MENINAS DE RUA
Meninas..., desde o útero materno, a sorte lhes cose os possos, lhes costura a boca.
A preparar as urnas, isso, quando os abortos, não guerreiam logo, o seu quinhão!
Essas jovens meninas, e meninos..., aí jogados, nessas sarjetas, são laboratórios...
E abre-se o véu, suas realidades, ante os seus olhos, forma crua, perversa, devassa.
A vida, não lhes dá trégua, e até parecem caminhos traçados desde o berço, sinas!
Estão sós, e cada dia, é uma dura sentença, e não há recursos, a lhes salvar a pele.
Bem certo, que tens diariamente apelado, mas a indiferença lhes escarra na cara.
E suas flanelas são essas bandeiras, desfraldadas, a limpar as sujeiras da sociedade.
Driblando os carros, lépidas, buscam o sustento, a ver um mundo pelos para-brisas...
E notam que são, também de carne e osso, seus algozes, fechados nessas redomas!
Assim, nessas aulas de campo, têm as  primeiras lições, noções, das desigualdades...
Os carros se afastam, mas os retrovisores, levam imagens, desse triste cartão postal.

No delírio das colas, e reféns doutros psicoativos vestem a fome, o frio, as sedes...
E reiteradas vezes, os cestos de lixo, servem de repasto, empanturram-se de ilusão!
Fartam-se desse pão negado desde a infância, e driblam, o apetite, o zelo o estômago.
Banalizadas, brutalizadas, desfilam nessas vitrines, irreverentes, com seus iguais...
Vias áridas nessa paixão, onde os cristos, deitam-se nesses corações, dessas pedras!
E essas meninas, flores abrindo-se na puberdade, ficam à mercêr do próprio destino.
São descobertas, pela precocidade, da libido animal de meninos e outras meninas...
Despudoradas, inconscientemente, irrefletidas, exibem-se com labéu maquiavélico.
Tem avisos, de que a vagina, é moeda de troca, e faz sua incursão nesse sub-mundo.
Sem nenhum bel-prazer, sem volúpias, que possam, garantir os gozos na "mulher".
São assim comportas abertas para as diversas DST’s, que as aviltam e as aniquilam.
E estagiam assim, nas sarjetas cruas, sujas, nuas, abandonadas, para serem putas!


Neófitas, enveredam por esse atalho, essa profissão, sem tirocínios, sem desejos.
Sem nenhum pudor, sem nenhuma censura, sem nenhuma reflexão, sem aferros!
Se sujeitam à sanha de homens maduros que lhes podiam dispensar amor paternal.
E em troca do real da fantasia que as façam mulher e fatal, imolam-se , alheias...
Num gozo crebro no rosto das suas bonecas de pano a quem confiaram sua infância.
Deixam-se inundar por sêmens amorais sem emoção, sem se aperceber da insídia.
Tempos depois agonizam, nas mesmas calçadas, vias, que lhe serviram de cama.
Meninas, com a mesma idade das nossas meninas, a mesma idade de nossas filhas.
Gemem impassíveis, instintivamente abrem as pernas no afã de livrar-se do fardo.
Sob os olhares aterrorizados, de outros meninos, outras meninas de mesma sorte.
E quando pari, pari a céu descoberto, que lhe vira a cara, num fatídico prenúncio,
E assim, assustadas e combalidas, validam um novo ciclo de dor, e de misérias...

Albérico Silva