Vida
Não consigo
desvendar
os segredos da vida
que insiste em bater
com luva de pelica
e outras vezes
com luva de borracheiro
na minha cara
branca rosa de saudades
me dá pistas
desenha mapas
nas paredes branquinhas
da minha alma cinza
escura de solidão
e outras vezes
me tira o chão
me adoça os lábios
inunda meu coração
de setembros
e primaveras
e outras vezes
me atrofia a carne
no inverno intempestivo
dos amores mortos
envenenados pela
indiferença das aves
de rapina
me oferece o mel farto
das cavernas
bem frequentadas
pelos amantes irracionais
com corpos untados
de desejos e felicidades
e outras vezes
me enfia goela abaixo
o fel do desamor
que vira e revira
meu estômago baço
e coração
limpa o meu caminho
ilumina acostamentos
com corrimões
que sigo tateando
tocando os rostos
e sorrisos fartos de alegrias
e outras vezes me mostra
a escuridão dos olhos
banhados nas lágrimas
que brotam aqui e aí
e me inundam os pés
que deslizam serenos
procurando desvendar
o indecifrável...