O CAMINHO DO MEIO

Explode teu átomo
no início do mundo
observo-te em teu íntimo
aplaudo-te à expansão dos tempos
e aguardo-te, em fragmentos.
Fragmentos...
Como gostaria de juntá-los
feito quebra-cabeça
e guardá-los no meu silêncio profundo.

Hoje envelheço desbastando pedras
cada partícula do meio
desafio
a luz e a escuridão.
Cada palavra que invento
desfio
a astronomia e a solidão.
Cada meio do caminho
por um fio
o operário e o malhete na mão.
Cada eterno obstáculo
assimilo e confio
dentro de mim, haverá solução.

Percebo que o tempo já não mais existe
tampouco o contraste
e as cores
entre os seus elementos.

O céu e a terra
a antiguidade e o seu futuro
a guerra e a paz
a Igualdade, a Liberdade e a Fraternidade
a fuga de todos os caminhos
o apocalipse do momento absurdo
o caminho do meio ao lado
as conquistas 
e a humanidade.

O que o homem não sabe
é aguardar o momento do fim das tempestades,
compreender
a física da humildade
e a lógica inefável da liberdade.

...desde longas remotas eras
construindo templos e glórias
fileiras de homens e pedras
atravessam calmamente pela nossas histórias.
wildon Lopes – 25/07/2016


“No Meio do Caminho”
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade - 1930