ACASO

Somos filhos, pais, irmãos, amantes, e tantos outros,

Feitos de encontros e desencontros, medos e esperança,

O coração, cofre dos desejos escondidos,

Misterioso, guarda histórias que ninguém contou.

Convivemos com o acaso, descaso e tudo que não se pode dominar,

Ferventes em anseios, presos ou libertos em um constante querer mais,

Avançamos e recuamos inúmeras vezes, o quanto a vida exigir,

Enfrentamos serpentes, e suas cabeças retiramos nos dentes, ingerindo veneno.

Somos livros em movimento, estamos cheios de marcas,

São páginas rasgadas, outras amaçadas, fruto dos desmazelos,

Incontáveis vezes forçados ao desapego,

Quando no fundo desejávamos mergulhar mais profundo.

Solitários, na companhia de nós, cheios de nós que embaraçam caminhos,

Estradas dos que foram e voltaram, e dos que permanecem parados,

Pele facilmente cortada, com facas, navalhas ou palavras,

Risos de motivos escondidos, que desejavam ser água, deixar transparecer.

Do passado, um presente que se formou, força inevitável que não se pode alterar,

Um futuro nascerá do presente, se permanecermos firmes em constante respiração,

Uns caem de escadas, outros quebram as asas nas aventuras do amor,

Mas no fim levantamos, e sorrimos para o espelho, testemunhando mais uma superação.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 31/08/2016
Código do texto: T5746299
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