ENANTIODROMIA
Enantiodromia
(Poema Classificado no Concurso Nacional de Poesia da UFSJ - 2016)
Julieta de Souza
Tal qual embrião que se forma,
formou-se por herança, em meu peito, a precipitação.
Desatinada, imaginei que só bastava regar a semente uma vez,
que só bastava um raio de sol...
Em devaneio, puxei o broto insistindo que ele crescesse
na hora da minha urgência.
Assim, desapontamento nasceu
e, por anos, nada mais vingou.
Pensamento atroz de que o tempo me envelheceria me iludiu.
Tresloucada, comprei o fruto industrializado
pagando pelo amadurecer.
Tive pressas...
Tive urgências...
Vivi de imprudências e quis antecipar a gestação de meus projetos.
Descrença cresceu como erva daninha
encorajando-me a enveredar para dentro de mim.
Bem lá no fundo, abençoada fonte no chão ressecado brotou,
A senda elucidou-se e a tempo, lancei ao destino
as sementes de ouro guardadas em meu peito.
Semeei esperança na espera que a vida me fez esperar.
Por conseguinte, no confim do meu jardim,
sazão fez brotar a árvore do cognoscível.
Gota a gota.
Fase a fase.
Tempo a tempo.
De sorte que, no tempo oportuno,
vi nascer os frutos de temperança ao alcance do meu despertar.
Grande alento: tomei posse desse rebento
no tempo que o tempo me deu.
Abastada , compreendi que o tempo ainda me tinha
e a tempo me deixava conjugar
esse fruto chamado esperar.
E não é que o tempo foi?!...
E o tempo ficou?!
E o tempo voltou?!
Ora, o bendito fruto do ventre, investido de pura alma,
me fez viver tanto tempo
que sou agora mais jovem que outrora.
Por hora, caminho devagar para que o tempo passe
e pouse na estação engendrar.
Pois hoje... Ah... Hoje eu já posso engravidar!