Para pensar
É Natal! Meu Deus,
Cristo não morreu? - Não, não morreu!
- Tenho certeza, está vivo.., muito vivo,
ainda vai nos salvar!
É Natal!
Tragam-me um megafone!
Sou pós-humano, preciso gritar :
- Cristo nasceu de novo, de um ovo qualquer.
Tem pele lisa de lagartixa e garras de tamanduá!
Maria está tão triste, já não quer mais viver.
Nela, é tudo silêncio. Já não quer mais rezar.
A mesa está farta, Maria, muito farta..,
a coca-cola vai esfriar!
É Natal!
Vou fazer meu último apelo,
mesmo não podendo apelar:
- Quero salvar alguns argonautas, do triste naufrágio.
Há sempre infaustos meninos, ainda vivos, boiando distante..,
nas águas do mar!
Ah, que tédio terrível!
Sou tolo, mas não aguento mais a tolice dos vivos!
Esse mesmo discurso mentecapto, asno sem dono,
que voa distante, corrói meu tino, meu torto juízo,
como quem a falar : - Feliz Natal e próspero ano novo, de novo!
Pobre peru estraçalhado, sobre a mesa,
a coxa é minha: - grita o menino,
todos os anos!
Um dia, a virgindade
de nossa Virgem Maria..,
vai acabar!
O Papa, no Vaticano, com sua voz egocêntrica,
ressalta a partilha do pão, sem nada querer partilhar!
Quem é rico, caro leitor, rico sempre será.
O discurso, é só brincadeira de roda,
é mais um torpe ardil,
e só para tentar enganar!
É Natal?
Vida de cão!
Não há vida de cão, que não se faça pensar!
Há sempre alguém deitado, num banco de praça, na Praça da Sé.
Há sempre uma Maria angustiada, no fundo escuro do beco,
em frente de um velho espelho..,
tentando rezar!
É Natal? Depressa!
Tragam-me um megafone!
Vou fazer meu último apelo, mesmo sabendo que o Papa não ouvirá.
Não importa! há tanta riqueza no mundo!O mar é tão vasto! Há tantos galhos secos, boiando distante! - Alguma coisa, nesse mundo de Deus.., diz Maria,
preciso salvar!