CADUCO EU
Todos os silêncios me comovem a alma e
assim eu ouço as vozes... as que me movem
os dedos, as que me permitem ao medo,
as que me movem o espírito para o jardim
dos sonhos.
Assim eu percebo escuridão no teu olhar
distante, frieza em teu falar tardio, receio
em teu conceito falho.
Pergunto-me por que acordo todos os
dias com esta ânsia de viver!? ...
Pois que viver está vida só não basta! ...
Vejo a multidão correr no burburinho das
ruas por onde sigo só... correm os meus
versos na contramão do que tateio, mas
também morrem os meus versos em tuas
mãos lavadas...
Ordeno os meus passos para adiante e tento
ordenar minha vida no caminho das pedras,
no perdido caminho da métrica que me resta...
e o tempo que me resta será tudo que saberei viver.
Há ecos e sons das sílabas mal-acabadas que
aceleram os meus olhos nesta pequena luz
em que pousei o meu papel desfeito.
Nada sei..., mas é por ti que eu sigo!
Hoje o adiante é tão logo ali, e no entanto
há tanta juventude dentro de mim que me
faz intuir que sou criança brincando na
calçada dos sonhos bons..., contudo, nas
calçadas não há sonhos, apenas correntes
geladas selando destinos, estacionando
corações, enrijecendo as faces acovardadas.
Há lembranças velozes nas paredes que me
abraçam, vejo ainda as cores da infância que
me vivificaram a alma na transitoriedade vulgar
do mundo.
No passageiro que são as posses dos homens,
caduco eu no ciclo perfeito das estrelas...
Caduco eu no paradoxo obscuro das mal
aparadas arestas! ...
Há Planetas que me habitam em órbitas
colossais das inspirações de vários mundos.
Sou astro a morrer e nascer todos os dias no
ocaso da minha própria poesia...
Pois que minha poesia é o silêncio que me resta! ...