À deriva
À deriva
Acordei desassossegado, sem noção onde o meu barco estava ancorado.
Voltei os olhos, não reconheci a direção.
Apavorei-me! A amargura penetrou meus ossos e cai no esquecimento
Será esse o meu destino? Que hipocrisia lamentável
E o que resta de tudo já vivido? Uma lembrança lastimosa
Fiquei horrorizado, isso seria mais uma armadilha da maldade?
Depois percebi que todos somos igualmente falidos, apenas ainda não desmascarados1
E há muito porque se deva viver? Nossas ideias de bondade nada valem realmente.
Estou praticando uma autonegação? Talvez apenas a alteridade que se abandona.
Resta para todos só o túmulo e a imagem, quando não é a perplexidade e o medo.
Pensamentos que voam ou a angústia termina com a morte?
Vou me iludir com o amanhã e viver uma overdose de soníferos?
Quando me despertei, então veio a inquietação: a artimanha desprezível triunfará?
Será a vitória dos idiotas mal-intencionados? Tudo é ilusório e passageiro.
Esse caráter provisório da vida nos joga mesmo à deriva.
E aí, qual o sentido da realidade? Apenas uma sucessão vazia de momentos?
Senti repentinamente um vendaval ensurdecedor e as aguas balnearem.
Ufa, nem sei onde estou, todo lugar é lugar, que importa, todos somos transeuntes!
A vida é indecifrável, queiramos ou não, todos estamos à deriva!