FERNANDO PESSOA E EU

TADEU BAHIA - Autor

A cada dia que passa

Sinto que sou medido,

Admirado/quantificado/pesado

Diante dos bens materiais

Que eu possua, ou não...

Não digo o que tenho

Se é que o tenho,

As leituras do Fernando Pessoa

Desde os meus tempos de menino

Ajudaram-me a ser: reservado,

Calado, discreto e tranquilo!

Admiro os dias vazios

E intermináveis,

Quando a poeira sopra nas ruas

E praças vazias,

Aonde nas noites solitárias e frias

As Almas purgam os seus pecados.

Agradeço aos versos do Pessoa

A pessoa que hoje sou,

Poucos sabem da minha vida

E eu não me incomodo,

Se perguntarem-me de hoje em diante

Se possuo bens, carros, fazendas,

Responderei que as vendi

E nada mais tenho!

Hoje eu não pretendo ser nada

Absolutamente nada...

Quero sentar a vontade

Nas beiras dos caminhos

E de todos receber os carinhos

Até que a noite chegue.

Quero andar despercebido

Usando, anônimo, o meu chapéu da “Caatinga”

E poder andar distraído no meio da multidão!

Depois que aposentamos

Colhemos os frutos das sementes que plantamos

Se boas, colheremos frutos doces,

Se más, só as colheremos amargas ou pecas.

Hoje não me queixo

Apesar das noites chuvosas de outrora

As suas gotas frias ajudaram-me,

E as minhas sementes,

Frutificam tão docemente!

E delicio-me a saboreá-las

Com os meus olhos verdes e sonhadores

Embebidos da mais cálida poesia;

O seu paladar aquieta-me a Alma

Traz-me a reflexão, a calma,

Que sento na varanda quando a noite chega

E fico a conversar, até bem tarde,

Com as estrelas e os astros lá do céu!

Pessoa... Pessoa... Pessoa e Fernando Pessoa

Livros que andam e conversam sozinhos

Nas prateleiras brancas da minha Biblioteca

Eles não precisam de mim para conversar

Eles se bastam nas suas multiplicidades

Nos seus heteronímicos patológicos

Nas suas incontáveis Almas,

Nas suas suaves e loucas esquizofrenias!

Bom ser múltiplo

Bom ser múltiplo para bastar-se,

Sem ter que dar satisfações a ninguém.

Ser múltiplo como pessoa/pessoas

Ser seu próprio vizinho de rua

Ser seu próprio corpo, Alma e sombra,

Ser seu proprietário e seu inquilino,

Ser seu parceiro nos jogos de xadrez

Ser seu próprio chofer de táxi e passageiro,

Poder ditar o seu próprio destino

E quando o táxi chegar ao final da corrida

Poder pagar a si mesmo

E dar-se a própria gorjeta!

TADEU BAHIA
Enviado por TADEU BAHIA em 10/08/2016
Reeditado em 23/09/2016
Código do texto: T5724363
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