QUANTO MAIS...
Quanto mais te escondes das coisas do dia-a-dia
mais te acha a inequívoca e frágil e doce poesia
do bulbo da cebola
do alaranjado da cenoura
do azul que doura
o dia com seus fiapos de nuvens dependurados
caindo sobre vastos mares que guardam cálices sagrados...
Quanto mais te fazes secreta conta do colar de mil pérolas brancas
mais te acende o fogo que queima no fundo de navios que dançam
a Netuno como fossem balões que bailam no corpo denso do ar
que respira a floresta
que sorve o alvo a seta
que desmaia em nenúfares e alfazemas
que bailam a secreta dança dos jardins celestes
onde repousam os esboços do primeiro deus e suas penas...
Quanto mais queres ver o oculto
mais verás o que se esconde
em tua sombra em teu vulto...