O poeta que há em mim

Há um poeta em mim.

Ele vive num cômodo vazio da minh'a alma.

Sujeito sensível e gracioso.

Ele se encanta com as coisas mais simples da vida: o sol, a lua e o amor.

Gosta do cheiro da terra molhada e de engolir os pequenos cubos de gelos que caem das nuvens numa tarde de granizo.

É apaixonado pela lua e fecha os olhos para apreciar o murmúrio do mar.

Acaba cochilando ou, como ele mesmo disse, tirando um soneto.

Ele é mais carne do que máquina. Mais ideia do que coisa.

Às vezes, sinto-me envergonhado por ser ele.

Fico em conflito porque me ensinaram que para ser "homem de verdade" é necessário ser forte: não chorar, não se encantar e não sentir.

E acabo dando razão para o vulgo.

E tento explicar tudo através de números.

E começo a cimentar os jardins que há em meus olhos.

Ergo edifícios frios em meu coração.

Pavimento as estradas de terra que há em minhas veias.

Mas, há um poeta em mim.

E não posso mais negá-lo e nem escondê-lo.

Um poeta jardineiro, observador de formigas.

Um poeta que insiste em falar das flores, de cantar tantos amores.

Eu sei que há um poeta em mim.

Que derruba muros e constrói pontes.

Que tem como limite as curvas do horizonte.

Graciliano Alves de Azevedo
Enviado por Graciliano Alves de Azevedo em 06/08/2016
Reeditado em 06/08/2016
Código do texto: T5720441
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