O poeta que há em mim
Há um poeta em mim.
Ele vive num cômodo vazio da minh'a alma.
Sujeito sensível e gracioso.
Ele se encanta com as coisas mais simples da vida: o sol, a lua e o amor.
Gosta do cheiro da terra molhada e de engolir os pequenos cubos de gelos que caem das nuvens numa tarde de granizo.
É apaixonado pela lua e fecha os olhos para apreciar o murmúrio do mar.
Acaba cochilando ou, como ele mesmo disse, tirando um soneto.
Ele é mais carne do que máquina. Mais ideia do que coisa.
Às vezes, sinto-me envergonhado por ser ele.
Fico em conflito porque me ensinaram que para ser "homem de verdade" é necessário ser forte: não chorar, não se encantar e não sentir.
E acabo dando razão para o vulgo.
E tento explicar tudo através de números.
E começo a cimentar os jardins que há em meus olhos.
Ergo edifícios frios em meu coração.
Pavimento as estradas de terra que há em minhas veias.
Mas, há um poeta em mim.
E não posso mais negá-lo e nem escondê-lo.
Um poeta jardineiro, observador de formigas.
Um poeta que insiste em falar das flores, de cantar tantos amores.
Eu sei que há um poeta em mim.
Que derruba muros e constrói pontes.
Que tem como limite as curvas do horizonte.