CAIXA DE PANDORA
Ah, se esse espelho falasse!
Mas quem disse que espelho não fala?
Ele fala sim, quando revela ao mundo, o que guarda...,
dentro de si!
Se esse espelho falasse, diria:
- José, José, sou uma máquina do tempo,
permaneço, por anos, em um canto qualquer,
mostrando os enigmas, os segredos da vida,
de quem, do lado de fora, como tu...,
olha pra mim!
- José!
O segredo da alma é assim,
um mistério, que parece sem fim.
Uma antípoda falsa imagem falante,
uma caixa de Pandora destruidora da razão,
guardada, no fundo profundo da alma,
de um velho espelho...,
tentando sair!
- Ah, José!
Se tu soubesses
como a esperança é diferente!
A esperança não é como a gente,
a esperança, não sai da caixa, nem tenta fugir!
A esperança é obstinada, renitente a todas argutas
promessas do homem!
Quem fugiram da caixa, não foi a esperança,
foram as desgraças: o menino saiu de perna amputada..., um horror!
Em seguida saiu a dor, a fome, as doenças, o medo, a decadência, a miséria.., o terror!
A esperança ficou,
está sempre ali, no mesmo lugar, de tocaia, no fundo da caixa,
prolongando o sofrimento insensato do mundo..., que não passa!
Sussurrando ao ouvido do moribundo, belas palavras,
conspurcando os lírios brancos da alma,
colhendo flores inodoras...,
sempre, no mesmo jardim!
Ah, Nietzsche, Nietzsche!
Se vivo fosse, como José, diria olhando no velho espelho:
- Pandora minha flor, meu amor, minha linda Pandora..,
por que ainda chora lágrimas de dor?
- Não vê que a esperança não é dádiva divina,
é pura vingança, é a última desgraça!
Quimera de fogo, fera faminta,
devoradora de sonhos...,
presa, dentro de mim!