Mendignidade
Maria do morro do lixo,
De lixo vive o teu luxo.
Tua fé é o teu sacrifício,
Barulho de fome, eu te escuto.
Tua falta de pão é um suplício.
Migalhas, artigos de luxo.
Maria do morro do lixo,
Esperança não veste luto.
Maria da angústia e da fome,
E é fome disso ou daquilo,
Os ossos que te carcomem
São ossos do teu ofício.
Maria do morro é um estigma.
É falta de fé, de esperança.
Veste teu traste, te sujas
E te limpas com dignidade.
Num neologismo te insurjas,
Sê lá Maria à vontade,
Mas Maria, tu não és musa,
Maria, és "mendignidade".