RECOLHIMENTO - Poesia nº 40 do meu terceiro livro "Relevos"
Fui saindo e nascendo,
Respirando e chorando...
Na boa acolhida cheguei!
Vi a luz pela primeira vez,
Junto com a angelical tez...
Mamãe em puros aconchegos,
Era o meu ninho de abraços...
Recebi seus inúmeros carinhos,
Depois de ambos os cansaços...
Mamei o rico alimento me dado,
Suguei o amor, amei, fui amado!
Fui criança a cada esperança,
Porém, a tudo não se alcança...
Fui moleque no calhambeque,
Mas mamãe pisava no breque!
Fui um menino muito arteiro,
Mas a tapa era sim, certeira...
Fui garoto no meu dia inteiro,
Brincava livre a vida faceira!
Fui menino bem educado,
E um pouquinho malcriado...
Fui um bonito adolescente;
Tinha opinião convincente...
Era um jovem inteligente,
Mas um pouco intrigante...
Fui adulto pouco conservador,
E na vida, de mim o professor!
Fui o velho amigo sofredor,
Mas o tempo curou a dor!
Eu vivi e bem aproveitei,
Tudo o que aqui passei...
Mas se algo eu pudesse mudar,
Esse eu, ao tempo queria voltar;
Então seria muito mais feliz,
Por aquilo que eu não fiz!
E os anos foram passando...
Nos loucos períodos divididos,
Em vívidas e devoradas fatias.
Neles, os meus trajetos lambidos,
Das horas que em mim escorriam,
Foram enfim..., me desgastando!
Sugo o amor de quem por mim foi dado;
Já não me alimento como no passado,
Estou com esse redobrado cansaço,
Mas eu ainda ganho muitos carinhos.
E entre parentes meu ninho se refaz,
Tenho os aconchegos semelhados,
E vou reencontrar a angelical tez!
Juntam-se a mim, toda essa paz
Das sementes que eu aqui deixei.
Vou respirando, vou gemendo,
Vou-me indo, vou morrendo...
E feliz por esta despedida,
Levando a minha vida
Para o recolhimento,
Eu me abandonei!
Eduardo Eugênio Batista
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