MORADOR DE RUA
Olhos me veem
Mas não me enxergam
Braços não buscam me afagar
Quando a primavera for só flores
Ou assim que o inverno adentrar
Tentando corroer os meus ossos
No chão da terra onde vou deitar
Nas ruas do meu cemitério
Nos túmulos que tento sepultar
Meus sonhos passados e futuro
Por entre muros que tento derrubar
Minha filosofia de vida
Minha visão do por do sol
O meu sorriso amarelado
O meu nome quase esquecido
Um morador de rua vencido
Um lutador desprotegido
Quem sabe tema de redação
Uma tese
Um mestrado
Um motivo
Para a próxima estação
Alguém me traz um prato de sopa
Mas não me convida pra almoçar
Naquela mesma mesa de sua sala
Ou num restaurante popular
Eu nem sei porquê estou escrevendo isto
Acho que é para o tempo passar
E assim que o frio for embora
Eu sei que o calor do verão
Com o sol
Vai
Brilhar
E eu vou surfar
Nas ondas da alegria
Sempre esperando
Um milagre acontecer
Os olhos que olham
Quem sabe
Um dia
Me conhecer