Raiva
Raiva
De tanta raiva, que quebranto
Restou? Que fétidas lágrimas
Se derramam sulcando o rosto?
Por entre a orgia dos destroços
Que emoções são vilmente lançadas
À voragem do tormento do silêncio?
Se a fome da vingança é a chama
Que arde luxuriosa e enganadora
Que oferta restará para os abutres?
Se a demência é desculpa da fuga,
São as gargalhadas apenas adagas
que ferem o vazio liberto do inferno?
Se os sussurros de amor são suaves
Porque vertê-los aos sons viperinos
Carregados do tudo e do nada de nós?
Se a raiva fosse tanta de tanta raiva
Porquê o luto trágico-cómico do ciúme
Alimentado do desespero sentimental?
Se o amor é o mal fatal, quais afectos
São a vacina eficaz para o destruir
No seu todo; tronco, ramos e raiz?
Se esse amor jamais foi existencial
Porque a raiva teima em desacreditar
A vivência quixotesca da sua sombra?
Raiva? Raiva! A incapacidade suprema
Da doação eterna e plena de dois seres
Firmada em suposição e desconfiança.
Essa raiva incontida para deslumbrar
Pressupostas alianças da frustração
Com as hárpias em derrocada iminente.
Jamais se é o que se pretender ser:
O seu ser perfeito, amado e amante
Mesmo errando por defeito de alma.
De tanta raiva, clama-se unilateral
O rasgar do amor em ínfimas porções
Para que, em orgulho, se esteja só!
Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=296994 © Luso-Poemas