Raiva

Raiva

De tanta raiva, que quebranto

Restou? Que fétidas lágrimas

Se derramam sulcando o rosto?

Por entre a orgia dos destroços

Que emoções são vilmente lançadas

À voragem do tormento do silêncio?

Se a fome da vingança é a chama

Que arde luxuriosa e enganadora

Que oferta restará para os abutres?

Se a demência é desculpa da fuga,

São as gargalhadas apenas adagas

que ferem o vazio liberto do inferno?

Se os sussurros de amor são suaves

Porque vertê-los aos sons viperinos

Carregados do tudo e do nada de nós?

Se a raiva fosse tanta de tanta raiva

Porquê o luto trágico-cómico do ciúme

Alimentado do desespero sentimental?

Se o amor é o mal fatal, quais afectos

São a vacina eficaz para o destruir

No seu todo; tronco, ramos e raiz?

Se esse amor jamais foi existencial

Porque a raiva teima em desacreditar

A vivência quixotesca da sua sombra?

Raiva? Raiva! A incapacidade suprema

Da doação eterna e plena de dois seres

Firmada em suposição e desconfiança.

Essa raiva incontida para deslumbrar

Pressupostas alianças da frustração

Com as hárpias em derrocada iminente.

Jamais se é o que se pretender ser:

O seu ser perfeito, amado e amante

Mesmo errando por defeito de alma.

De tanta raiva, clama-se unilateral

O rasgar do amor em ínfimas porções

Para que, em orgulho, se esteja só!

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 28/07/2016
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