Lentamente

Desde quando a gente nasce

tudo vai matando a gente

um pouco e todo dia

As palavras ruins

As fofocas da tia

O mosquito que morde em mim

Os ouvidos moucos

Que o mundo oferece

enquanto a gente cresce

e se não mata

pelo menos deixa rouco

Desde quando a gente nasce

desde que não morra no parto

esta vida é um infarto constante

é a fumaça das velas

o barro nos pés

os gases invisíveis e inodoros

os pontapés que a vida dá

quase sempre leva ao chão

a cara amarrada do patrão

o quase nada que eu trago pra casa

a demência lenta e galopante

a que somos condenados

pois quando nascemos gente

nascemos, então

sem asas

Amputados da delícia de voar

vamos vivendo de más notícias

Maus olhados e olhares ruins

e casos de polícia

ou cobiça do ladrão

desde quando a gente nasce

tudo vem matando a gente

lentamente, desde então

Edson Ricardo Paiva