poema-armário
queria um poema
que não dissesse quem sou
nem o que devo dizer
ou quem eu devo amar
aquilo que me melhorou
ou o que foi preciso imitar
que não fosse a luz no caminho
queria um poema
que só me contasse mentiras
e não me mostrasse verdades
que não me trouxesse remédios
de curas indiscutíveis
que não me mostrasse raízes
e nem mesmo especulações
queria um poema-armário
em que me fechasse por dentro
achando-me estar protegido,
mas continuasse iludido