É Só uma Crise de Ansiedade (performance)

O barulho da cadeira me incomoda

Esse "nhec" e "nhec" é insuportável

Ela vai para frente, para trás

Nunca para no mesmo lugar

Não consigo ler este livro

Não nessa cidade infernal

Os carros estão sempre passando

As nuvens se transformam a cada segundo

A Terra nunca para de rodar

As vezes eu pulo uma linha

Leio e não compreendo

Que noticia é essa?

Ali na televisão

Um acidente aconteceu

O motorista se atrasou

Na ida de seu precioso trabalho

E agora nunca mais chegará

Então eu me levanto

Vou até a cozinha

Abro a geladeira

E não pego nada

Minhas mãos tremem

Meus pés tem tique

A cada segundo

Eu mudo de canal

Ando de um lado pro outro

Mal mastigo para comer

Se a pressa é inimiga da perfeição

Eu sou uma incrível imperfeição

Não aguento nem mais este texto

Quero logo que termine.

O silêncio nada diz

A ansiedade coisas mil

Atravessamos no vermelho

Não sabemos o que estamos fazendo

Antes de dormir, inventamos o próximo dia

E não fazemos nem 10% do planejado

As correntes seguem suas direções

A velhice chega cada vez mais rápida

As pessoas falam o tempo todo

Nunca calam as suas bocas

O cérebro não para de pensar

Temos que correr para viver

Professores não aceitam trabalhos atrasados

As coisas devem ser feitas em cima da hora

Tic-Tac, os ponteiros estão girando

Estamos andando em círculos

Cavamos nossas covas dia a dia

Os medos antecedem os acontecimentos

A paz é uma invenção

Guerras acontecem o tempo todo

A cada esquina uma treta diferente

Conversas se transformam em discussão

E como podemos não temer?

Como podemos ter paciência?

Temos que agir

Só agir

Nada de pensar

Cada gesto é uma consequência

Borboletas causam tsunamis

Se ex casais não se odiassem

Poderiam estar tristonhos

Se hoje estamos juntos, amanhã, quem sabe

Que destino é esse que nos guia?

Para o fim de nossas vidas

Se ansiedade fosse um dom

Não sentiríamos tanto tormento.

Os finais já estão assimilados

Em nossas ansiosas mentes

Depois do clímax,

É que vem o grande final

Não podemos nem respirar

Que lá vem vindo uma salva de aplausos

Os olhares silenciosos incomodam

Quem está acostumado só a falar

Se cada dia durasse uma hora

Não teríamos tempo nem para comer

Quando sabemos de grandes eventos

Se esquecemos do nosso presente

Contamos os dias

Não dormimos a noite

O que será que vai acontecer?

Encontrarei o grande amor da minha vida?

Me divertirei até de madrugada?

Será que ela vai vir?

Por favor, dias, passem logo

Eu não aguento mais estudar

Eu queria mesmo é estar de férias

Eu poderia estar fazendo tanta coisa

Mas estou aqui, agora

Ouvindo este poema.

Tudo bem

Podem aplaudir

A poesia já chegou ao fim.

Endriu Costa
Enviado por Endriu Costa em 15/07/2016
Reeditado em 15/07/2016
Código do texto: T5698939
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