Nunca te direi...
Nunca te direi...
Meus lábios cerram-se de raiva,
minha boca seca-se de desprezo,
quebro meu coração em mil pedaços,
doo-o de carniça às feras da noite
da densa bruma de dores e pesadelos.
A alma lanço-a aos vermos do ódio
perpetuada pelas chamas da negação,
torturo meu corpo de senilidade,
e a mente de loucura galopante
em mares furiosos de paixões findas.
Nunca te direi que, na primavera,
te revisto de flores silvestres
em telas virgens de puro linho,
nem aguarelas que esboço, febril,
do teu corpo sensual e inebriante.
Jamais lerei os poemas em rascunho
que meu ser dita à pena empunhada,
revelando o epicismo do nosso amor.
Tenho frio... Lanço todas as folhas
e esboços ao fogo da purificação.
Jamais verei teu rosto e o sorriso
de teus lábios porque cego de dor
em cada lágrima corrosiva de saudade.
Nunca direi quanto bela és e vazia
de emoções que, eu poeta, te peço.
Nunca direi que te amo eternamente,
nem o tempo que os lírios se vestem de cor,
porque sobre mim desce negro o manto
matizado de rubro orgulho errante.
Não, nunca te direi que morro sem ti.
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