Fuga íntima.
As vezes poesia para mim é como uma fuga...
Uma fuga de mim mesmo,
das pendências da vida,
das contas não pagas,
do vitimismo,
da fúria escondida e incontida,
dos desejos não realizados,
das ausências de privilégios
desse mundo que parece injusto.
Quero, de alguma forma,
anistia dos meus sacrilégios.
Usar a poesia para pedir,
em versos,
perdão a alguém,
a todos,
a mim mesmo.
Ao certo não sei a quem.
A quem me tem no coração
ou me pensa na razão.
Perdão Irmão!
De sangue ou do coração.
Irmão amigo
Ou que me vê como inimigo.
Quem sabe pedindo perdão
não ficarei mais livre de mim
e poderei andar por ruas estreitas
como quem andaria num campo aberto,
sem horizonte certo,
Cheio de vida colorida
espalhada por gramado um chão sem teto.
Quero deixar o perfume de várias essências
penetrar por minhas narinas,
abrir meus pulmões e respirar
até o que me entra pelas retinas.
Deixar também penetrar esse medo
dos muitos olhares que me chegam.
Sentir as alegrias e tristezas
dos mais íntimos segredos
Nunca antes contados a alguém,
mas que se apresentam,
sem palavras e pudor,
num olhar.
Pudera eu dar a todos esses olhares
uma resposta estimulante,
mesmo que inaudível,
quem sabe, um breve sorriso
de alegria plena
Ah, se eu conseguir esse feito
em meus dias de vida terrena
Terá a minha fuga
de certas coisas pequenas,
valido a pena!