O outro lado

E eu achando que não tinha outro lado?

Ele está lá.

Quieto.

Surgindo.

Quando perco o medo

Eu abraço o mundo

E ele me abraça.

Dançamos juntos

Como numa ciranda de diversidades de existências.

Uma dança democrática e alegre.

E eu achando que não tinha esse lado.

Eu só conhecia um lado

Mas ao me abrir

Percebi que há outros ‘sim’s’ espalhados.

Há um muro dentro de nós a ser quebrado.

Há um outro lado

Dentro de nós.

Há sempre um jeito

Uma forma

Um desejo

Dilacerado,

Mas latente e verde.

Há o outro lado

Há luz no canto do sótão

Na escuridão do quarto

Há um outro lado.

Há um sorriso por trás do susto debaixo da cama

Mas há quem sofra calado.

Quem sofre calado

Não sabe que tem um outro lado.

Eu não sabia desse lado

Até desejar o outro lado

Da história

Da minha história asfixiada num quadrado.

Para ser quem se é

É preciso transitar todas as vias

Conhecer os perigos

E tomar muito cuidado

Tem gente que não volta

Depois de se perder em seu ego esmagado.

Eu via o mundo só de um lado

Agora entendo os cientistas

Os astrólogos, as cartomantes

Os poetas e os drogados.

Há dor em cada um

Só não podemos ficar viciados

Porque dentro de nós

Há um outro destino há ser descoberto

E nós só temos que cruzar o caminho

E olhar para o outro lado.