Chão e lamparina
Morávamos em uma pequena casinha.
Éramos da roça, nossa casa era de barro.
Que casa não é de barro?
O que não tínhamos era sofisticação,
Conforto a gente tinha de sobra.
Nosso piso não era de terra modelada, moldada, assada,
Era o próprio chão que nos sustentava.
Nossa iluminação não vinha da eletricidade.
O que é eletricidade?
Isso só pode ser coisa da cidade!
O que clareava nossas noites
Era a luz do luar, ou o fogo no querosene.
Alguém de hoje, na cidade, sabe o que é lamparina?
De tempos em tempos fazíamos reforma.
Trocávamos os cipós e as taquaras,
Buscávamos barro e bosta de vaca.
Minha vovó dizia que era para dar liga.
Víamos o chão na parede,
Transformávamos o chão em parede.
Já pensou que sua parede um dia foi chão?
Pois é, somente nós, aqui da roça é que temos essa noção.
Inclusive eu, sou humano, sou húmus, sou terra.
É, mas você não, você diz que é gente,
E não se lembra mais da sua origem.
Criou tantas coisas que acabou esquecendo-se de quem é.
Vim da casinha de taipa, me lembro muito bem.
Você se perdeu na estrada, não sabe o que é, nem quem.
Eu nunca me esqueci de onde vim, já você,
Fez questão de esquecer!