Madrugadas Inversas

Madrugadas Inversas

Nas tuas madrugadas, quase auroras,

e nas tuas noites escuras como breu,

vergastadas pelo gélido vento norte,

trepo ao monte e reclino o meu corpo

no tronco duro de uma árvore despida

perscrutando a tua cabana silenciosa.

As horas dolorosas de recordações

desfilam até o raiar do dia enublado

e os meus pensamentos voam céleres

amargurando a tua eterna ausência.

Relembram os dias de sol afogueados

de tanto corrermos para os braços

um do outro; os beijos da doação

de nossos corpos sempre enlaçados.

Mas as tempestades cercaram o desejo;

ventos uivaram-nos ciosas danações,

a chuva enregelou-nos no mais íntimo,

os raios lançaram as sombras da dúvida.

E partiste... Tomaste a tua liberdade,

porque deste amor te sentias cativa.

E as minhas noites e madrugadas frias

invertem-se das tuas, presas no infinito.

A mente nega-se a emanar desejos

e o meu corpo apático rasteja, febril,

ao desejo de nada fazer, nada sentir,

excepto meus olhos que te procuram.

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 27/06/2016
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