Madrugadas Inversas
Madrugadas Inversas
Nas tuas madrugadas, quase auroras,
e nas tuas noites escuras como breu,
vergastadas pelo gélido vento norte,
trepo ao monte e reclino o meu corpo
no tronco duro de uma árvore despida
perscrutando a tua cabana silenciosa.
As horas dolorosas de recordações
desfilam até o raiar do dia enublado
e os meus pensamentos voam céleres
amargurando a tua eterna ausência.
Relembram os dias de sol afogueados
de tanto corrermos para os braços
um do outro; os beijos da doação
de nossos corpos sempre enlaçados.
Mas as tempestades cercaram o desejo;
ventos uivaram-nos ciosas danações,
a chuva enregelou-nos no mais íntimo,
os raios lançaram as sombras da dúvida.
E partiste... Tomaste a tua liberdade,
porque deste amor te sentias cativa.
E as minhas noites e madrugadas frias
invertem-se das tuas, presas no infinito.
A mente nega-se a emanar desejos
e o meu corpo apático rasteja, febril,
ao desejo de nada fazer, nada sentir,
excepto meus olhos que te procuram.
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