UMA VIDA INTEIRA, POR FAVOR.

I

Onde está a minha meia?

Não queres pagar inteira?

E porque pagaria?

Todos pagam não?

Achas mesmo?

Preciso achar aquilo que é obvio?

Por que ninguém trapacearia?

Por que seria injusto?

Por que deveria ser justo? Pra que justiça?

O que é justiça pra você?

Por que me perguntas isso? Não sabes?

II

E se eu te der a meia, o que mudaria?

A gente não muda nada, não é mesmo?

Não pensas em ti?

Em mim o quê?

Não tens princípios?

Pra que princípios se a vida vivesse de fins?

O único final é a morte, não?

Sim, e daí?

Que história guardas contigo?

Não cansas de fazer pergunta difícil?

Viver não te é difícil?

III

Que tal me dar logo essa meia?

Por que te daria?

Por que te quebraria?

E o que ganhas com isso?

Preciso ganhar alguma coisa?

Não foste tu que disseste que a vida vivesse de fins?

E a meia não basta?

É só a meia que queres?

O que mais ia querer?

Há algo mais para querer?

IV

Por que me fazes todas estas perguntas?

Achas que fui eu que as fiz?

Não foste? Então quem foi?

Não consegues adivinhar?

Por que você é tão chato?

Anda lá, ainda não descobriste?

Podes me dizer?

Por que não pedes pra vida te contar?

Foi ela?

Poderia ser alguém mais?

E se eu não for bom com perguntas?

E alguém é?

V

Antes de ires, me diga, fazer perguntas faz mal?

E se fizesse?

Então deveria parar, certo?

Te sentes mal?

Poderia me sentir melhor que isso?

Então porque ainda fazes perguntas?

Poderia deixar de fazê-las?

Por que poderia?

Pois é, por quê?

Hernâni Arriscado - Uma Vida Inteira, Por Favor.

Hernán I de Ariscadian
Enviado por Hernán I de Ariscadian em 22/06/2016
Código do texto: T5674787
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