ETERNO PAGÃO

Mesmo acreditando

Na força da trindade,

Tem coisas que não aceito

E minha indignação

Vou levar para a eternidade,

Porque eu não quero morrer pagão.

Já nasci em débito,

Carregando a minha conta

Do tal pecado original.

E logo cedo aprendi,

Fazendo o “Pelo sinal”.

A carregar minha cruz.

Cruz credo!

Por tanta acomodação.

Comecei me batizando,

Deixando um dinheirinho

Como todo bom cristão.

Depois todo de branco,

Pagando todas as parcelas,

Após um ano de catequismo,

Fiz a primeira comunhão.

Fiz a crisma,

Fui até sacristão.

Na igreja me casei

Depois de sete anos de união.

Por isso é que eu digo,

Não é justo morrer pagão.

Já distante nessa caminhada

Eu, meus filhos e minha mulher

Vamos juntos com muita fé.

Mas com os olhos no final do mês

E com um medo retado da inflação.

Agora novamente sou um pagão.

Vivo somente a pagar as contas,

Da comida, da moradia, da segurança,

Da saúde e da educação.

E se eu quiser ter uma morte digna

Tenho que pagar meu funeral

Em forma de consórcio

Ou em suave prestação.

Por isso grito para o mundo

Que sou um verdadeiro cristão,

Não mereço morrer, assim,

Como um eterno pagão.

De uma coisa tenho certeza,

Só não vou pagar a minha salvação,

Prefiro morrer como um bom pagão.