VENTOS E MARÉS
Sinto o fardo de mil mundos.
Passam todos por mim como um raio.
Cegam meus olhos com suas visões
De toda a cor e forma; o inimaginável!
Assisto o ser sem fim.
Tanto posso e nada faço.
Tudo se acumula e desaparece.
Sou o desperdício concreto.
Que responsabilidade tremenda agir!
O rumo, a direção, tudo se atravessa
A vida engasgada em minha laringe.
A voz da insurreição de ti mesmo
Nunca veio. Quanta responsabilidade!
O início à toda prova
Mover-se rumo a indecisão
Só aqui posso tudo o que sou
Quanta coisa, quanto ouro!
Nada.
A elegância de nada ser.
A inércia confortável.
Que tragédia tomar partido!
O mar de mim se ausenta.
Olho pro abismo e vejo o exílio
Olho pras montanhas e vejo o frio.
Olho pra cá e não vejo
Que vale a história!
Que custo ter de viver!
O estático, o imóvel, o confiável.
O humano, o visceral, o intratável.
Todos convergem num ponto:
A ironia da vida
- Escolher viver.
Hernâni Arriscado - Ventos e Marés.