Dia Submerso
Dia Submerso
Sou essa manhã submersa em nevoeiro
que esconde o sol do teu sorriso ameno.
Sou a tristeza da pedra personificada
inerte num qualquer espaço sem flores.
Sou um ébrio ressacado no aguaceiro,
nu, flácido, obeso, furiosamente obsceno.
Sou a besta à força retida em paliçada,
negada de afagos, na morte de estertores.
És a tarde submersa em ritos de dança
ondulantes ao som de liras e trombetas.
És o contorno de corpos em gestação,
prenhos de folias eróticas da natureza.
És amazona em riste, armada de lança,
que me feres de amores infiéis de operetas.
És a musa, princesa de véus em mão,
nua e velada, e me acorrentas à incerteza.
Nós, em mim, somos a noite submersa
em pesadelos brutais de negro e sangue.
Nós, em ti, somos a vingança desejada
pelas excelsas deusas das mentiras ciosas.
E a minha noite resta solitária, imersa
no catre que acolhe meu corpo exangue.
E a tua noite é noite duma orgia festejada
entre rimas de poemas e satíricas prosas.
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