Dia Submerso

Dia Submerso

Sou essa manhã submersa em nevoeiro

que esconde o sol do teu sorriso ameno.

Sou a tristeza da pedra personificada

inerte num qualquer espaço sem flores.

Sou um ébrio ressacado no aguaceiro,

nu, flácido, obeso, furiosamente obsceno.

Sou a besta à força retida em paliçada,

negada de afagos, na morte de estertores.

És a tarde submersa em ritos de dança

ondulantes ao som de liras e trombetas.

És o contorno de corpos em gestação,

prenhos de folias eróticas da natureza.

És amazona em riste, armada de lança,

que me feres de amores infiéis de operetas.

És a musa, princesa de véus em mão,

nua e velada, e me acorrentas à incerteza.

Nós, em mim, somos a noite submersa

em pesadelos brutais de negro e sangue.

Nós, em ti, somos a vingança desejada

pelas excelsas deusas das mentiras ciosas.

E a minha noite resta solitária, imersa

no catre que acolhe meu corpo exangue.

E a tua noite é noite duma orgia festejada

entre rimas de poemas e satíricas prosas.

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Poeta sem Alma
Enviado por Poeta sem Alma em 05/06/2016
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