BONIFÁCIO DE ABREU NA TERRA DOS SONHOS

Sou servo da angústia.

Todas as formas de ser são diametralmente sofredoras.

Não há opção que não venha a se tornar falta e depois ausência.

E que me encha de dúvidas sobre qual força seguir,

Até que não me sobrem forças - senão a mais perene

Angústia de ser o que não é.

Que fase terrível, não saber quem sou.

Se perder no outro, como se perder em ti mesmo.

Tanto faz, é perder na mesma.

Amor ou ódio, que significa?

Que minha alma nutrirá sentimento

E invejará quem não o sente, disso eu sei.

Isto é, anseio saber; pois desde já sofro

Desta indecisão de antever o que não sentir.

Que futuro seguir? Nenhum deles me saca da morte.

E futuro algum me dá chance de ser por inteiro - eu mesmo.

Se vale a pena viver, que me ensine aquele

Que soube como fazê-lo melhor que eu.

Mas que prove-se primeiro! Pois impostor já sou,

Ao querer algo de alguém que decide o que é,

E que só através de mim tem sua contraprova.

Isso também não seria uma custosa trapaça?

Lateja-me os nervos, cogitar o abismo de possibilidades.

Irrita-me a tanto tempo, que tempo algum deve sanar

Essa angústia de estar no tempo e dele querer malfadar.

Só as estrelas me entendem,

Muitas já nem estão mais lá, mas continuam ali;

Estáticas, permanentemente brilhantes e

Sapientes de tudo na vida - Decididas.

Hernâni Arriscado - Bonifácio de Abreu na Terra dos Sonhos

22/04/15

Hernán I de Ariscadian
Enviado por Hernán I de Ariscadian em 01/06/2016
Reeditado em 20/08/2016
Código do texto: T5653805
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