Direito de Defesa
Se meu organismo envelhece
num templo de ondas mortas
Padeço sobre tudo que cresce
a vida: resumo como se portas.
Se a minha língua é perspicaz
pense bem, são anos de dores
Dissabor em renascer mordaz
a morte das flores e suas cores.
Se a minha boca traz a cólera
é porque o merecimento veio
Sátira e sarcasmo só se tolera
se vier de um romântico seio.
Se meus braços não confortam
envenenados por tal ignorância
De pessoas que não se portam
causando união de asco e ânsia.
Se eu infelizmente não defendo
nenhum argumento que tu diz
É que cordialmente desentendo
ou prefiro ignorar e viver feliz.
Se minha audição não é latrina
é porque não quero as dejeções
A alegria intermitente é neblina
um porto seguro para negações.
Se eu sinto cheiro de putrefação
ante falsa bondade e moralidade
É que no odor desta presunção
prevejo um inferno de boçalidade.
Se tudo que tentei foi em vão
jamais poderei falar desta forma
Eu prefiro ser odiado, mas, são
na contemplação de cada norma.
Se nada mais poderá ter validade
considero-me no direito de viver
Não aceitarei esta alheia vaidade
que quer dizer como sobreviver.