Alma de Poeta

Quando minha alma chora

E meu corpo a ignora...

Quando minha alma clama

E meu corpo só reclama...

Quando minha alma sente

E meu corpo a desmente...

Quando minha alma canta

E meu corpo se espanta...

Quando minha alma é forte

E meu corpo quer a morte...

Quando minha alma é criança

E meu corpo só se cansa...

Descubro que poeta só tem alma,

Que num corpo se hospeda

Pra evitar freqüentes quedas,

Quando ainda existe chão.

Desse corpo se apodera

De seu pobre coração.

Ser poeta verdadeiro

É viver de sentimentos,

É optar por grandes sonhos

Que trazem junto o sofrimento.

É transitar, livre, pelo paraíso

E, em momento tão fugaz,

Num repente, sem aviso,

Ainda ser capaz

De ficar presa aos guisos,

Das chamas do inferno.

Mas esse é o combustível

Que justamente a anima

A expressar sua doce rima

No verão ou no inverno.

A caber num mundo tão pequeno,

Ainda assim gritar aos quatro ventos

Suas venturas e lamentos

Em textos mudos, pretensiosos,

Muitas vezes sufocados

Pelo desdém e indiferença

Se não pela maledicência.

Mas isso já não lhe importa

Por que, se em outros corações

Abrirem-se algumas portas

Ali também viverão

Suas futuras gerações.