MELHOR PERDER DO QUE ACHAR

O medo de perder é o mesmo de achar,

pois posso, num acaso fortuito,

o que perdi, de novo encontrar...

E modificado, por instância da natureza,

já não ser tão belo

o que para mim era pura beleza...

Reparar iria eu em detalhes

que antes nem os olhos posto havia,

erro do artista, erro de entalhe...

Ou seriam manchas que a visão ganha

e torna a figura do passado

um esboço do que já vira, tão estranha?

De encontro a mim, será que põe os mesmos reparos

quem me observa numa distância mesma

ou também já se lhe turva a visão e não me vê mais claro?

Melhor que o passado fique onde está,

que outros encontros sejam possíveis;

melhor perder do que achar

perdidas coisas esquecíveis...