SOU
Sou uma gota d’água no mar
Sou a folha seca no ar
Que se deixa levar pelo vento.
Sou um elo de uma corrente
Sou uma entre mil sementes
Sou um traço no risco do tempo.
Sou farol que acende e apaga
Sou o vento que na noite vaga
Varrendo os campos à luz do luar.
Sou uma fresta de claridade
Sou um barco que na tempestade
Sobe e desce na fúria do mar.
Sou uma nuvem a vagar no céu
Sou a pedra que anda a léu
Sou uma estrela lá no firmamento.
Sou a frágil chama da vela
Que acesa por sobre a janela
Se apaga a qualquer momento.
Sou uma tábua de salvação
Sou a arma empunhada na mão
Sou uma ponte entre o bem e o mal.
Sou água pura jorrando da fonte
Sou a neblina no pico do monte
Sou lodo fétido do lamaçal.
Sou um oásis em pleno deserto
Sou a certeza do que está incerto
Sou a verdade da ilusão.
Sou um herói acovardado
Sou a pureza de todo pecado
Sou o problema da solução.
Sou a correnteza de um rio
Que corre por horas a fio
E no mar vai desaguar.
Sou a linha do horizonte
Sou a água embaixo da ponte
Sou o tempo que existirá.
Sou as curvas da estrada
Sou tudo e não sou nada
Sou a mão que dá adeus.
Sou o fruto da alegria
Sou o sol do meio-dia
Que brilha louvando a Deus.
Ignácio Santos.