Amordaçado
Amordaçado
Amordaçado em questiúnculas díspares
de uma mulher possessiva, eis-me aqui,
nu de alma e nu de coração, rasurando
de verso a verso, de estrofe a estrofe,
esta minha raiva incontida pela injustiça,
sem a esperança num futuro fidedigno.
Os laivos da incerteza cravam-se insanos
nas dores das minhas vãs lamentações,
ferinos, vorazes, sugando-me o sopro vital,
guerreando-me a tímida paz de espírito,
perante rameiras, senhoras da mentira,
ornadas de véus de tentação enganadora.
Rasgam as folhas, por mim, rasuradas do erro
lavrado no meu coração vazio de emoções,
cercado dos grilhões férreos armados de ódio,
que me laceram vorazes a alma e me cativam
nas mil traições enredadas de falsos dramas
enleados como hera bravia sobre a vossa alma.
Minha boca está amordaçada de sujos farrapos
das recordações transformadas em pesadelos.
Meu sono solitário está deserto de sonhos ternos,
mirrando na secura das mil e uma promessas fúteis.
Meu ser estrebucha clamando pela morte fatal
para que a vossa vitória seja só uma fria derrota.
Sitiam-me na sombra da inveja galopante
que irrompe das veias secas de compaixão
e do sangue doado generosamente ao amor.
Cavalgam, em tropel, outras vontades alheias
que vos massacram os sentidos exaustos, ferozes,
e vos negam de ti na percepção total da verdade.
Mas a esperança, agora ruída, não morre nunca;
mais bela, outra amazona-musa virá libertadora,
quebrará minhas cadeias e beijará, docemente,
a minha boca ferida de vossos tumores malignos,
curará as minhas mãos de poeta com suas lágrimas
vertidas de seu amor eterno e vos expurgará de mim!
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