É POR ISSO

Nunca tive um gato.

Nem um rato.

Por isso, o queijo e o peixe nunca faltaram à mesa,

de goiabada nem a sobremesa,

nunca joguei nada ao chão,

excepto, por uma mulher,

meu coração ao chão...

Nunca tive uma estante com calhamaços

de pensamentos derivativos.

Menos ainda um punhado de livros.

Não considero necessário guardar papel

quando as ideias já estão reservadas

para, utilitariamente, serem pensadas;

prefiro que os livros criem pernas

e caminhem em outras mãos,

outras estradas,

à boca de outras cisternas...

Nunca tive que pensar porque nunca tive.

Alcancei coisas por puro desejo e esforço,

é por isso que hoje ainda sou moço,

que meu amor, minha emoção,

sobrevivem.